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Mostrando postagens de agosto, 2020

Barbie motorista

E stávamos a caminho de Alicante. Pegamos uma carona com horário marcado pelo aplicativo Blablacar, similar ao Uber na Europa. O carro parou no ponto de encontro e de lá saiu uma mulher. Entre os vários carros que já pedi por aplicativo, poucas vezes vi mulheres condutoras. Ela não era a única, mas uma das poucas.  Cabelos loiros, alta, usava um boné e uma roupa de academia em tons de rosa. Até sua máscara, que devido ao COVID-19 somos todos obrigados a usar, era rosa. Conversamos e ela contou que é modelo. Disse que trabalha muito e viaja na mesma proporção. Reclamava e declarava seu amor as passarelas. A princípio, pensamos que se tratava de uma polonesa. Porém, ela veio de algum lugar da Rússia. Ela aproveitava sua liberdade, enquanto dirigia sem medo, com confiança, ao som de Rihanna, Backstreet Boys e outras músicas Pop. O sonho de qualquer garota. Sentei ao seu lado no banco de passageiro. Fizemos uma parada na estrada. Meu namorado me perguntou se eu queria um sorvetinho. El...

Comida

Cheguei ao supermercado em Dublin entusiasmada, pronta para gastar alguns euros do meu Travel Card, já sabendo o que comprar: Pingles, Nutella, Waffle, e Pizza. Toda aquela comida que me levaria a destruição, que não destruiria tanto assim o meu bolso, ao contrário do que aconteceria no Brasil. Após alguns dias, a surpresa: enjoei. Daria tudo por um prato de arroz e feijão, feito pela minha avó.  Visto o meu sofrimento, uma das pessoas que dividia a acomodação comigo, me ajudou a preparar o que seria o meu primeiro prato de arroz, após a mudança de país. Até me ofereceu um ovo para acompanhar. No começo eu precisava calcular um certa quantidade a mais para colocar na panela, já prevendo que o fundo do arroz iria queimar. E lá estava eu, preparando a minha própria comida brasileira, na Europa. Do café da manhã ao jantar, a comida exerce um poder cultural incrível sobre nós. Para muitos, fora do país, não há casa fixa, emprego estável ou direitos. Mas há a comida. Ela traz memórias, ...

Ser diferente

Há momentos em que tudo que a gente mais quer é ser igual a todo mundo. A garota popular da escola. O nerd que pode não saber muito sobre a vida, mas tem as respostas necessárias para passar na prova. Os seus amigos que ficaram na festa até mais tarde, enquanto você precisou ir embora antes das 22h. Aqueles que parecem não se esforçar para serem legais. Que conseguiram os melhores empregos e quando você pergunta como isso aconteceu dizem: Rolou. Precisa mandar currículo, né?! Jura lindo? Aquele conhecido que virou celebridade na internet, enquanto a única pessoa que deixa comentários na sua foto é a sua mãe. Aquele que tem milhares de curtidas no instagram, que tem um canal no youtube, que já viajou mais que você. Você é diferente.  Você é aquele (a) que acredita que há algo além de futilidade na patricinha. Que, se precisa recorrer às respostas do coleguinha, ao menos diz “Obrigada” e recomenda um bom filme para ver no sábado à noite, depois dos estudos. Que ajuda com conselhos os...

Meu namorado Polonês

Ele está sempre me ensinando algo. A cuidar das plantas, as táticas de agilidade na cozinha, a ter mais concentração e foco, a pensar em coisas positivas, a abrir potes de vidro. Certa vez, perguntei a ele: Afinal o que eu ensino a você? Ele disse: como fazer guacamole. Adoro o seu hambúrguer vegetariano e o patê de atum. (Aqui na Europa, eles não têm o costume de fazer os lanches malucos que encontramos no Brasil). O meu namorado não “empurra com a barriga”, uma vez que nem sabe o que essa expressão quer dizer. Para ele, a estação Liberdade, em São Paulo, chama-se Freedom. Ele também não sabe se a Lenda dessa paixão faz sorrir ou faz chorar , mas essa aí nem eu sei. Sim, nós somos de mundos diferentes, mas isso não é conto de fadas. No final do dia, nós salvamos um ao outro do tédio, da solidão, da falta de origem, da mesmice que é ter o mesmo ponto de vista.  A gente faz piadas que não fazem sentido. Conhecemos cidades diferentes, realidades diferentes, problemas diferentes...

Blogueira de outros carnavais

Osasco, 2018 : Escola, recusa às aulas de educação física, escapatórias para o bar da esquina. Shows de bandas de garagens. Blog ~secreto: conteúdo privado. Blog de lamentações. São Paulo, 2011 : Início da faculdade, novos amigos, diversidade, trabalhos em grupo e perrengues, descobertas, jornalismo impresso, passeios em São Paulo. Blog de cultura. São Paulo, 2017 : Emprego no centro, mais de 2 horas diárias no transporte público, poupança. Passeios econômicos aos fins de semana. Vontade de abandonar tudo e ir viver no mato. Anseio por liberdade. Blog de poesia .  Dubin, 2018 : Correria, vida na Europa, surpresas boas e outras nem tanto, viagens de avião, países diferentes, novas culturas, os mais variados trabalhos possíveis, inclusive mais de um trabalho. Aulas de inglês. Blog de intercâmbio. Madrid, 2020 : Sensação de ter vivido várias vidas em uma só. Pandemia. Quarentena. Casa, decoração e crafts. Plantas. Uma certa calmaria e vestígios de maturidade. Blog de crônic...