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Comida

Cheguei ao supermercado em Dublin entusiasmada, pronta para gastar alguns euros do meu Travel Card, já sabendo o que comprar: Pingles, Nutella, Waffle, e Pizza. Toda aquela comida que me levaria a destruição, que não destruiria tanto assim o meu bolso, ao contrário do que aconteceria no Brasil. Após alguns dias, a surpresa: enjoei. Daria tudo por um prato de arroz e feijão, feito pela minha avó. 

Visto o meu sofrimento, uma das pessoas que dividia a acomodação comigo, me ajudou a preparar o que seria o meu primeiro prato de arroz, após a mudança de país. Até me ofereceu um ovo para acompanhar. No começo eu precisava calcular um certa quantidade a mais para colocar na panela, já prevendo que o fundo do arroz iria queimar. E lá estava eu, preparando a minha própria comida brasileira, na Europa.

Do café da manhã ao jantar, a comida exerce um poder cultural incrível sobre nós. Para muitos, fora do país, não há casa fixa, emprego estável ou direitos. Mas há a comida. Ela traz memórias, reúne, tranquiliza e prepara o corpo para enfrentar lutas diárias. É por isso que o mexicano cozinha Tacos, o polonês Pierogi, o espanhol Paella e o brasileiro, arroz e feijão. A comida nos aproxima e por meio de receitas trazemos de volta pessoas que estão longe, algumas que até já partiram, outras só estão esperando do outro lado do oceano. A comida nos proporciona orgulho do nosso país, e olha que eu nem cozinhe lá essas coisas. É bom ter arroz, feijão, cachorro-quente, espiga de milho, brigadeiro, cuscuz, bolos e tantos outros. Também é bom misturar todo a culinária brasileira a de outras partes do mundo, até o ponto que fica difícil dizer qual é a receita original. Que bom ter essa tradição que vez ou outra nos coloca na cozinha e acaba em pratos saborosos e cheios de memórias afetivas.


 

Foto by me, tirada em Ibiza.

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