Estávamos a caminho de Alicante. Pegamos uma carona com horário marcado pelo aplicativo Blablacar, similar ao Uber na Europa. O carro parou no ponto de encontro e de lá saiu uma mulher.
Entre os vários carros que já pedi por aplicativo, poucas vezes vi mulheres condutoras. Ela não era a única, mas uma das poucas. Cabelos loiros, alta, usava um boné e uma roupa de academia em tons de rosa. Até sua máscara, que devido ao COVID-19 somos todos obrigados a usar, era rosa.
Conversamos e ela contou que é modelo. Disse que trabalha muito e viaja na mesma proporção. Reclamava e declarava seu amor as passarelas. A princípio, pensamos que se tratava de uma polonesa. Porém, ela veio de algum lugar da Rússia.
Ela aproveitava sua liberdade, enquanto dirigia sem medo, com confiança, ao som de Rihanna, Backstreet Boys e outras músicas Pop. O sonho de qualquer garota.
Sentei ao seu lado no banco de passageiro. Fizemos uma parada na estrada. Meu namorado me perguntou se eu queria um sorvetinho. Ela passou logo em seguida, com seu corpo magro e suas proporções equilibradas. Eu disse que não. Ali, fiz uma decisão de parar de comer, que durou apenas algumas horas.
Eu olhava para ela e pensava quantas garotas gostariam de ser assim, livres, viajando pela Europa de carro ou de avião. Quantas garotas gostariam de ter saído de uma pequena e perigosa cidade no meio de lugar nenhum para uma cidade grande. Quantas garotas gostariam de vestir uma roupinha de academia e desfilar um corpo totalmente magro. Quantas garotas queriam simplesmente escolher a música.
A realidade não era assim para a maioria. Há mulheres sofrendo violência todos os dias, principalmente no transporte público. Elas não têm carro próprio, gosto próprio, corpo próprio. Mulheres que vivem em cidades perigosas, com medo de virar a esquina. Que sonham todos os dias em sair dali, mas não sabem como. Mulheres que têm vergonha de seus corpos, que os escondem dos olhares públicos. Mulheres que dançam conforme a música. mas que não escolhem a canção.
Há tantas diferenças por aí e parece que tudo está um pouco fora de proporção, menos o corpo das garotas perfeitas.
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Barbie instagram/reprodução |
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