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Mostrando postagens de julho, 2020

O viajante

Pode fazer -3° ou 40° graus. Não tem tempo ruim. O viajante acorda cedo sem reclamar. É capaz de andar por horas sem perder a empolgação. O viajante já viu milhares de ruas charmosas, mas ainda sim, se deixa surpreender. Registra tudo com o olhar, mas só por segurança tira inúmeras fotos, lota a galeria do celular e compartilha tudo nos grupos do Whatsapp. Às vezes, perde a hora do almoço, perde os óculos de sol, perde a noção do tempo. E se perde lá mesmo, em um novo lugar que encontrou. O viajante tem o olhar de uma criança, que curiosa quer explorar tudo ao seu redor. Diverte-se ao andar de metrô em Amsterdã, se derrete com o sorvete de Lisboa, se emociona em Paris. O viajante aprende a dançar conforme a música. A mover-se rápido e planejar-se bem para enfrentar as grandes metrópoles como Londres. Também aprende a sentar e observar a natureza em cidades pequenas como Cuenca. O viajante entra em bares e restaurantes perguntando pelo melhor preço, utilizando as frases que aprendeu no ...

Fazendo amizade com o google

O google está querendo melhorar os seus mecanismos. Entender melhor as intenções de busca e como as pessoas as realizam. O que, afinal, digitam e esperam encontrar nele. Sabe quando você está conversando com um amigo sobre uma viagem para Dublin, liga o computador e lá estão as melhores ofertas para o destino, antes mesmo de você pesquisar? Sim, é o google agindo de maneira estranha, porque ele quer ser como nós. Humanos. O nome técnico para isso é SEO  (Search Engine Optimization). Ele, basicamente, é realizado por meio de longas pesquisas para descobrir palavras mágicas, que podem conectar o que você produz a pessoa que procura o seu serviço. Eu aprendi isso estudando sobre o assunto. Daí, surgiu o nome desse blog, Crônicas e devaneios da Andressa. Simples e direto assim. Nada de trocadilhos ou palavras difíceis, afinal estou tentando fazer amizade com o google e pode ser que ele não curta trocadilhos, leve para o pessoal, e não fale de mim para os amigos. No entanto, nes...

Mande notícias boas

Faz tempo que não recebo um comunicado dizendo que ganhei na loteria e todos os meus problemas financeiros foram automaticamente resolvidos. Na verdade, nunca recebi um comunicado desses. Faz tempo que não ouço dizer que os cientistas terão mais apoio para suas pesquisas. Que haverá mais discussões sobre a reciclagem. Que todos nós, sem incluir raça, cor ou classe social, terão acesso garantido à educação. Que não haverá discriminação. Que os imigrantes serão ouvidos. Que brancos e pretos compartilham dos mesmos direitos. Que o feminicídio foi reduzido. Que os homens estão preparados para discutir sobre o feminismo. Que temos vacina contra o Coronavírus. Que a repetição de padrões foi interrompida. Que tudo bem ser uma metamorfose ambulante , é melhor do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Que a jornada de trabalho será oficialmente reduzida para 4 horas por dia. Que presidentes homofóbicos e intolerantes não passarão. Que sorvete não derrete mais. Que terá sushi hoje à ...

Só vai

Eu me lembro muito bem de quando, aos 18 anos, fui trabalhar em uma farmácia. O trabalho era duro e as horas longas. Certa vez, comentei com a minha gerente que queria estudar jornalismo. Ela riu. Após três meses de contrato, fui despedida. Mas não foi só isso: ouvi ela dizer que tímida daquele jeito, como iria trabalhar com comunicação, se nem sabia me comunicar? Não iria a lugar nenhum. Depois de terminar a faculdade de jornalismo, tive empregos melhores ou que pelo menos pareciam melhores. Depois, vieram os freelas. Em alguns deles, ao questionar sobre as condições de trabalho, disseram que eu não iria a lugar nenhum se continuasse questionando daquele jeito. Mas fui né? Fui a faculdade, depois fui estudar inglês fora do país, depois fui estudar espanhol. Fui à Escócia, a Paris, à Polônia, a Hungria e muitos outros. Fui e conheci um grande amor. Comecei de novo em dois países diferentes. Fui escrever e entre as voltas que a ponta da caneta dá, voltei à escrever crônicas e deva...

É de graça!

Tem promoção? Essa loja tem preço bom? Atividades gratuitas? Cupom de desconto? Adoro promoções e não entendo porque tanta gente se orgulha em pagar caro. Eu sou ao contrário. Sempre fui o oposto. Encontrar preços bons me traz uma alegria genuína. Me orgulho em dizer que encontrei uma promoção que me permitirá desfrutar de uma atividade bacana e que um dia me trará boas memórias. Melhores, ao menos, do que dívidas no cartão. A razão é simples: faz tempo que percebi que a quantidade de dinheiro que você gasta não está ligada a qualidade de vida que você tem. Os melhores cursos nem sempre são os mais caros. Os melhores restaurantes sem sempre custam o que você não pode pagar. Até os hotéis mais caros estão sujeitos a não serem os melhores. Aí você passa anos atribuindo o que você não fez a falta de dinheiro, ao invés de buscar opções reais para o seu bolso. (O canal Me poupe! está aí para ensinar mais sobre isso, né). Honestamente, o melhor curso é que aquele que te ensina. O me...

Filho único

Quando todos gostam da mesma coisa, desconfie. Sério. É preciso certa maturidade para entender que a opinião da maioria não significa que algo é realmente bom.  Acontece quando dizem que ser filho único é a melhor coisa do mundo. Sou filha única e ouviu coisas como: É mimada. Não sabe ouvir não. Não sabe dividir. É mandona. Eu cresci acreditando isso, ainda que a realidade fosse diferente. As crianças com irmãos mais velhos sempre tinham com quem brincar. Aprontavam juntos e mais tarde lembravam disso sorrindo. Ao crescerem, tinham alguém para conversar, que já tinha passado por situações parecidas.  Acima de tudo, o que via, é que para muitos o irmão mais velho era uma inspiração, ainda que com imperfeições. E a minha inspiração, cadê? Tive que caçar. Na internet, na música, nos livros, nas conversas, nos lugares, nos museus, nas pessoas que estão ou passaram pela minha vida. Na verdade, ainda estou caçando. Filho único aprende a ser sozinho. A brincar com os próprios ...

Simples assim

Madrid tem me ensinado muito a cada dia. São coisas simples, mas sejamos honestos: o que é verdadeiramente simples nos dias de hoje? Rola aquela insegurança ao sair de casa, um ritual que inclui máscara, luvas e álcool em gel. Insegurança ao entrar no metrô, ao tocar a superfície. Nos cumprimentos entre os amigos, agora, só utiliza-se os cotovelos (dessa parte eu confesso que gostei, nunca fui fã de beijinhos). Novo normal. Como ainda sim ver a beleza das coisas simples?  Ir com mais calma. Apreciar o pão de manhã com azeite, tomate e sal a gosto. Dizer "Não" àquele docinho, porque já comeu muitos. Dias em que à luz do sol permanece até as 22h, e você já dormiu e acordou pelo menos duas vezes. Ir quase todos os dias no parque. Dá para ir a pé, quer mais simplicidade do que isso? Cercada pela a falta de regalias, entendi que há certas metas que eu nem sei se um dia quis realizar, mas repetia e cobrava a mim mesma. Ter um trabalho importantíssimo que mude o mundo todos os ...

Carta aberta ao mar

M ar, meu velho amigo, sinto falta de visitá-lo. Sei que está indo bem sem mim e as outras pessoas por perto, talvez até melhor. Sabe, eu saí de Dublin em dezembro e fui para Madrid. De lá para Ibiza, onde nos encontramos. Você estava ótimo, azul, esverdeado e cristalino. Um pouco frio, porém bem mais calmo do que aquela vez no Rio de Janeiro. De lá para Valência. De lá para Madrid. De lá para o Brasil, onde nos encontramos novamente, espero que lembre. De lá para Madrid, de novo. Daqui para a quarentena. Depois de passar por tantos Airbnb, um serviço que com certeza precisa ser revisto, é bom ter um teto fixo. Tive tempo para o DIY (faça você mesmo), reflexões, livros, séries, escrever, reescrever, revisões em muitos aspectos, cuidar de plantas, cozinhar e testar novos itens do supermercado. Aproveitei também para repensar minha relação com o celular. É ótimo tê-lo por perto principalmente em tempos de pandemia. No entanto, cada vez mais perdemos a habilidade de concentra...