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Comer, se perder e amar

Esse texto não leva o título óbvio de "Mulheres que amam viajar", mas deveria ser lido por nós, que amamos viajar, assim como o livro "Comer, rezar e amar". Ele conta a história de uma mulher que após passar por um divórcio, decide partir para um ano de descobertas viajando pela Itália, Índia e Indonésia. 

É muito curioso como em tantos momentos me identifiquei com a protagonista, Liz. Para começar, quando ela conta que não é uma boa viajante. Quem vê de fora, acha que todos que viajam ou gostam de viajar têm um talento nato para isso. Não é o caso dela, nem o meu.

Sou incrivelmente desajeitada, não sou boa em encontrar o hotel, nem com direções de forma geral, não me dou nem na hora de fazer a mala, pois sempre levo coisas demais - ou de menos. 

Quando vejo os outros planejando uma viagem - principalmente em posts da internet ou vídeos do YouTube - quase entro em desespero. Muitos aprenderam com esses vídeos a se planejarem tão bem, que chegam a viver a experiência antes mesmo de pisar no novo país.

Eles imprimem com antecedência. Reservam tudo com antecedência. Sabem tudo sobre o bairro em que vão morar, já fizeram amigos lá, até. Caminharam pelo google maps antes de chegar. Já têm a lista do supermercado pronta e sabem quanto vão gastar. 

Eles sabem onde vão comer, seja um lugar em que o preço é atraente ou o cenário tem ganhado espaço nas fotos das redes sociais. Anotam os nomes de quem vai ligar em caso de emergência. Elas sabem o que fazer em casos de emergência.

Resumindo, nem precisam viajar. Eu não nego que tento, cada uma dessas coisas, antes de viajar. Mas a verdade é que ao chegar em uma nova cidade, esqueço tudo e - na maioria das vezes - sigo minha intuição e improviso.

Não, não é a coisa mais sensata de fazer isso, mas é a maneira a qual eu julgo mais interessante, é ótimo se deixar surpreender por um lugar que você nunca viu antes, nem por fotos! É bom, de vez em quando, se perder pelo seu próprio bairro novo. Certa vez, em um bairro tipicamente Irlândes - cheio de campos verdes e casinhas de dois andares sem portões - eu me perdi. Eu era babá e deveria buscar as crianças na escola. 

Era meu primeiro dia. Fui parar na escola errada. Uma das mães notou que eu estava claramente perdida e me ofereceu uma carona. Eu não falava em inglês e não conseguia explicar onde eu morava. Desci do carro mais perdida ainda. No final, a mãe teve que ir buscar não só as crianças, mas a mim também. Sim, isso aconteceu.

Há outras passagens do livro que eu gostei muito também, quando por exemplo, a protagonista fala sobre a sua dificuldade de relaxar e não fazer nada. Americana, ela dedicou boa parte da sua vida ao trabalho e tentava entender o ato de relaxar como algo que poderia ser colocado em estatísticas. 

Só que não. Ali, ela foi aprendendo como se deixar levar, ou em outras palavras, se perdendo apesar do medo, uma característica que sim, acredite você ou não, muitos entre os melhores viajantes têm.



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