De pijama

Durante anos, você trabalhou todos os dias, com sol ou chuva, com trânsito ou alagamento, tendo a família para cuidar. Agora, muitas empresas descobriram maneiras de aderir ao home office. “Acorde, tire o pijama e vista-se como se você fosse trabalhar” dizem as recomendações. 

Quem acha elegante trabalhar em casa, viu que talvez não seja tão fácil assim. É preciso se organizar, lidar com o barulho da máquina de lavar, não esquecer a comida no fogão e tirar o pijama. “Para que, se ninguém vai me ver de corpo inteiro?”, questionam.

Cursos online passam a valer tanto quanto os presenciais. Você, apenas com um computador, pode trabalhar, estudar, praticar exercícios físicos e até aprender novas receitas. Sem precisar tirar o pijama, quanta tecnologia!

Nunca se consumiu tanta arte. “Já perdi a conta de quantos filmes eu vi nos últimos dias”, pensavam. Um luxo essas atividades que podem ser feitas de pijama.

A tarde, desconhecidos re-aprenderam a se comunicar pela janela: por meio de aplausos na Espanha ou canções, na Itália. Ninguém de pijama. Será?

Funcionários de supermercados, um lugar em que você talvez nunca quis trabalhar, salvam o mundo. Abastecendo, organizando e tornando sua alimentação possível. Uma participação mais ativa na sociedade do que empresários de terno e gravata, que, nesse momento, muito possivelmente, estão de pijama. 

Quem não trabalha estaria acostumado a tudo isso então? A quem não trabalha haja imaginação para não pensar nas contas. Vale tudo, até mesmo ficar de pijama.

Tempo tínhamos de sobra. Foi-se embora todos os julgamentos, afinal estavam todos em casa. Mesmo os mais poderosos não podem sair por aí exibindo sua riqueza. Restava, então, exibir o pijama. 

As blogueiras sabiam. No meio desse caos, lá estavam elas, maquiadas e belas, prontinhas para ensinar como aumentar os seus números no instagram. Porém, ninguém sabe se os lábios pintados de batom não escondiam uma cara de sono, de quem acabou de acordar e ainda não tirou o pijama.

De repente, acabaram-se as desculpas para sair de casa sem motivo. Por outro lado, acabaram-se as desculpas para não investir mais tempo em você, dentro de casa. 

Eu só espero que não acabem com o meu direito de ser dramática, de vez em quando, ou de ser sarcástica. E, principalmente, que não acabem com o meu direito de permanecer de pijama nos dias em que as coisas estiverem difíceis lá fora.


De pijama - Crônica
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